domingo, 5 de julho de 2009

Militares disparam contra manifestação desarmada e impede o retorno do presidente Zelaya a Honduras.

Estava marcado para hoje o retorno do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, que no domingo passado sofreu um golpe de estado por parte de do alto mando militar e de instituições do poder hondurenho. Logo das primeiras horas do dia, uma enorme marcha foi organizada na capital Tegucigalpa rumo ao aeroporto internacional para receber a quem reivindicam como seu legítimo presidente.

Desde o domingo passado, o país centro americano vive uma ditadura comandada pelo senhor Roberto Micheletti, que declarou logo pela manhã que o presidente Manuel Zelaya estava proibido de regressar ao país. Ainda assim, desde Washington, Zelaya partiu para a capital Tegucigalpa acompanhado de uma comitiva de jornalistas e representações diplomáticas.

Pela tarde, o presidente golpista Roberto Micheletti, deu uma coletiva de imprensa, onde demonstrou total determinação em seguir adiante sem absolutamente nenhuma concessão ou possibilidade de negociação com os organismos diplomáticos. Vale dizer que ontem, sábado 04, o secretário geral da Organização de Estados Americanos - OEA - José Miguel Insulza visitou o país e afirmou que o governo golpista não havia dado nenhum sinal de possível negociação. Roberto Micheletti, na coletiva de imprensa, ainda deslegitimou a decisão da OEA de suspender Honduras desta organização e aplicação da Carta Democrática. Micheletti também acusou, nesta ocasião, que tropas nicaragüenses estavam se aproximando da fronteira, e ameaçando invadir o país pelo retorno do presidente Zelaya.

Enquanto realizava a coletiva de imprensa, nos arredores do aeroporto internacional, uma enorme mobilização popular, organizada pelos muitos sindicatos e organizações sociais que mantém uma greve geral desde a segunda feira passada, tentava furar o cerco militar que estava fortemente armado em todo o aeroporto internacional de Tegucigalpa. Por volta das 5 da tarde, cerca de 50 mil pessoas conseguiram furar o cerco militar e foram duramente reprimidos pelos efetivos que estavam no lugar.

Durante mais de 30 minutos os militares dispararam contra o povo que estava desarmado em uma manifestação completamente pacífica. Desde ontem, a Telesur, canal de televisão venezuelano, denunciou que haviam franco-atiradores posicionados nas torres de controle do aeroporto com ordem de disparar contra qualquer tipo de rebelião popular, ainda que estivesse desarmada. A ação das forças armadas hondurenhas deixou um saldo de mais de 5 mortos e dezenas de feridos, como denunciou as imagens de Telesur, e o dirigente do Bloco Popular, Juan Barahona que também anunciou que as mobilizações continuam amanhã, e que seguem exigindo o retorno do presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya.

Telesur também denunciou a cobertura de vários veículos de comunicação internacionais que chamaram os acontecimentos de hoje de um enfrentamento entre manifestantes e exército, ao passo que as imagens divulgadas pelo próprio canal de televisão venezuelano mostram uma agressão brutal do exército hondurenho contra uma manifestação pacífica e completamente desarmada.

Por volta das 6 e meia da tarde o avião que trazia a comitiva do presidente Zelaya sobrevoou o aeroporto internacional de Tegucigalpa, mas rapidamente foi ativada uma mobilização de efetivos do exército hondurenho para impedir que o avião pousasse no país. O presidente Zelaya, assim como o comandante da aeronave deram declarações a Telesur, ainda quando sobrevoavam a capital, e denunciaram que a pista de pouso do aeroporto se encontrava fechada pelos militares e que o governo golpista havia proibido a entrada do presidente Zelaya no país. Dessa forma, a comitiva que levava o presidente Zelaya partiu para a Nicarágua, de onde poucos minutos depois se dirigiram a El Salvador, onde o presidente hondurenho se reúne nesta noite com outros presidentes latino-americanos, como Cristina Fernández, do Equador, Rafael Correa e Fernando Lugo do Paraguai o esperavam para uma reunião onde se deve determinar novas ações pela restituição do presidente hondurenho. Também acompanhava o presidente Zelaya o Ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro.

Desde El Salvador, o presidente Daniel Ortega, da Nicarágua, desmentiu que tropas nicaragüenses estivessem posicionadas na fronteira com Honduras, e denunciou que se tratava de uma campanha do governo golpista para incitar ao confronto internacional e velar o processo político anti-democrático que vive o povo hondurenho.

Agora pela noite, desde San Salvador, o presidente Manuel Zelaya se solidarizou com os mortos no massacre produzido hoje na capital hondurenha de Tegucigalpa.

Os movimentos sociais, que resistem desarmados à repressão militar que vem intensificando desde o golpe no domingo passado prometeram resistir na greve geral e na mobilização nas ruas de várias cidades do país, para exigir o retorno do presidente Zelaya a suas funções como presidente da república de Honduras. Neste momento as negociações com o governo golpista devem ser retomadas de imediato, e dessa forma, os organismos diplomáticos internacionais devem propor novas ações contra o regime golpista hondurenho.


Leonardo Fernandes
Caracas/Venezuela, 05 de junho de 2009.

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